Por
que jornada de piá?
Foi
um insight de domingo. Um domingo que podia ter sido péssimo, mas foi ótimo.
Estava almoçando com um amigo de meu pai, que foi minha primeira grande
descoberta no Rio. Ele formou em medicina com o meu Zé. E ele é Zé também. Como
meu pai, após a graduação foi fazer clínica no interior do Ceará e viver o SUS
na prática, nas miudezas que fazem desse Sistema uma belíssima colcha dos
retalhes mais diversos.
Mas
eles nunca mais tinham se falado. E meu pai, que teimosamente acredita nas
amizades que faz, ao saber de minha aprovação no mestrado, fez uma soma simples
e razoável. Eu vinha para o Rio e seu amigo Zé mora aqui há bastante tempo. Ou
seja: bastava reencontrá-lo para que minha chegada se tornasse mais suave e já
ganhasse alguma referência. Confesso que duvidei dessa matemática. Pensei:
imagina só se meu pai vai conseguir localizar essa pessoa! Ele não usa internet
e há muito pouco tempo começou a usar celular. Mora no meio do mato e não tem a
tecnologia como ferramenta. Pelo menos não essa veloz e digital. E mais: qual a
probabilidade possível desse amigo dele ainda ser o mesmo cara legal e ligado
no passado como outrora? Racionalmente não tinha muita lógica. Mas vá lá, fiz
como Luiz Gonzaga e respeitei os oito baixos de meu velho.
E
olha só que coisa incrível. O Zé vive aqui. É professor da Fiocruz, mesma
instituição que me trouxe a essa cidade enorme e é um cara da melhor categoria.
Tipo vinho, que o tempo aprimorou as melhores qualidades. É um nordestino
arretado, que virou doutor, professor e ainda anda de sandália de couro e de
bicicleta – o veículo mais inteligente que o homem já inventou (posso ouvir ele
dizendo isso agora). Gostaria muito de vê-los conversando de novo. Vai ser uma
coisa maravilhosa, digna de documentário.
Ainda
falarei muito de meu pai por aqui. Se não falando exclusivamente dele, terá
muito dele no que escrevo porque tenho muito dele em mim. Também acredito nas
amizades que faço e nas histórias que se tecem junto à minha, nos lugares aonde
eu chego. E desaguar aqui tem me dado ainda mais orgulho deles, dos meus amores,
dos que me trouxeram ao mundo e do que eles dizem e a gente pode escrever sem
medo. Zombando minha matemática regular, Zé me recebeu, me apresentou sua
família e de vez em quando me salva da solidão e da falta de assunto.
E
Zé, o amigo, tem uma filha que também tem 29 anos e se chama Paula. A piá. A
piá dele, a menina-filha, a indiazinha branquela, tímida, resfriada e com jeito
de neném. E que também parece ser muito bacana, o que ainda terei tempo para
descobrir. Quando o vi chamá-la assim, também quis ser piá. Voltei do almoço
caminhando e repetindo isso, querendo que essa palavra fosse parte do nome do
meu novo blog.
Piá
precisa ser minha memória. Precisa ser minha certeza, de que crescerei mas
permanecerei criança. Precisa ser meu ritmo espontâneo, sem pressa e com toda a
naturalidade possível. Piá precisa ser um jeito de agradecer a esse Zé que me
acolheu tão bem. Precisa ser meu papel no Rio, minha vida nova, minhas
encrencas e minhas descobertas. Minha jornada.
Já
é.
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