segunda-feira, 25 de março de 2013

30



A única coisa ruim de chegar aos 30 é a reta final do percurso. O último mês antes de fazer a curva. A gente cresce sabendo que essa hora vai chegar, faz piadas sobre isso, se imagina estando de mil maneiras diferentes quando pendurar no pescoço a idade e não percebe o quão imbecil está se tornando quando acredita que existe mesmo uma grande faixa de chegada onde se pode ler ‘parabéns, você virou adulto!’. Pra mim, honestamente, foi uma droga. Fiquei angustiada, sorumbática, esquisita, bipolar. Parecia que daquela minha casca velha ia sair uma bruxa. Enrugada, traiçoeira, de queixo comprido e com uma verruga na ponta do nariz. Borboleta, nunca.

Tudo bobagem.

Sou uma trintona com tê maiúsculo. Vivi todo o tempo que tive sem medo de errar a receita. Aliás, rasguei a receita. Não fiz planos longínquos, mas isso nunca me impediu de tentar meu rumo. Tento até hoje. Erro, acerto, deixo rastro. Me engano e me perdoo. Estou na vida, jogada no mundo. Ficando tão esperta quanto boba. Tão santa quanto doida. Tão histérica quanto sã. Tão Brasil quanto Ceará, África, Portugal. Tão eu quanto todos nós. Vocês, mistura do que sou feita. Matéria-prima: gente. Método: troca de energia. Validade: indeterminada.

Não sou mãe, mas sou madrinha. Não sou casada, mas sou comadre. Não sou concursada, mas sou estudante! Pra frente Brasil, pátria amada, mãe gentil! Nem cachorro tenho, mas o meu antúrio está cada dia mais lindo. E tudo o que não sou, ainda posso ser. Fui sendo de outras maneiras e deixando as cerejas para depois. Colherei todas, de vestido florido com a barra amarrada na canela, em belas manhãs de segunda, meu dia da sorte.

Doí tanto que aprendi a gritar. Sorri tanto que aprendi a chorar. Estive em mais lugares dentro de mim do que caberia em qualquer passaporte. E ainda assim, às vezes, me desconheço. Que seja. Não se pode desvendar-se por absoluto. Nem para si. O melhor é surpreender-se, vez ou outra estranhar-se, para não perder a habilidade de malear-se. Resignar-se. Despir-se de tudo para recomeçar de outro ponto, se preciso for.

Pois só agora ganhei óculos novos. Que olham em múltiplas direções: dentro e fora, direita e esquerda, ao alto e adiante. Debaixo do umbigo e acima do muro. E a busca pelo sentido começa a me responder. Estar viva para quê? Há alguma coisa que se possa fazer além de só ser?

Quando a gente faz a curva e percebe que não há faixa de chegada nenhuma, que só há o velho mundo com mil rotas de passagem... Aí sim, a vida começa de verdade.