De
repente o tempo no Rio mudou. Um sol escaldante, caudaloso, grudendo, cedeu
lugar a nuvens carregadas, quase sempre seguidas de chuva finas e persistentes,
ou de ventos frios, que deixam meu atual estado de espírito ainda mais verossímil.
Sempre achei que combino mais com tempo fechado, talvez porque eu mesma esteja
sempre em busca de uma harmonia que não existe dentro de mim. A velha harmonia
dos dias ensolarados, com crianças correndo nos parques e bexigas voando no céu
azul. Nem minha alma, tampouco meu verbo, combinam com isso. De onde vem essa sensação? Não sei. Nasci
assim.
Ao
lado do meu prédio tem uma pequena floresta. Ainda não entendi porque a
especulação imobiliária está permitindo que isso aconteça. Mas que bom que
está, pois assim posso acordar com o canto de algum pássaro. Genérico, uma vez
que meus conhecimentos sobre pássaros e seus cantos são demasiadamente chulos. Quase
nulos. O fato é que em tempo assim, bonito para chover e ventar, essa pequena
floresta se projeta para dentro do meu também pequeno apartamento pelas sombras
de suas árvores e seus movimentos. Às vezes me assustam. Morar só é sujeitar-se
a assustar-se com grande facilidade. Outro dia achei que minha imagem no
espelho fosse uma outra pessoa, que havia entrado no apartamento errado.
Olhando
as coisas assim cruamente, entendo que o caminho que vou percorrer exige um
tempo de adaptação que não considerei na tomada de decisão. Qual o tempo
necessário para chegar em casa e sentir prazer com o fato de todas as coisas
estarem exatamente no mesmo lugar em que as deixamos antes de sair? De quanto
tempo a gente precisa para não se sentir abandonado quando o contato social
definitivamente encerrar da porta para dentro? As pessoas mais racionais tendem
a resolver isso mais facilmente, ou a fingir mais rapidamente que resolveram.
Tive um namorado que suportava o fato de passar o Natal sozinho, longe da
família, numa cidade universitária. Existe gente assim, feita de um material
que eu desconheço. E nisso não há critério de valor, de serem mais ou menos
‘bacanas’ por conta disso. São apenas diferentes.
Olhando
minha casa engraçada, sem quase nada – fogão ainda não instalado, sem cama, sem
televisão, sem som, sem internet, sem mesa e sem plantinha para regar – eu reúno
instrumentos para fazer a minha própria terapia. É necessário que seja assim,
ou enlouquecerei. E escrever, mais uma vez, será a minha redenção. Peço, quando
rezo, que o Mestrado seja razão suficiente para me manter firme, e rápido, pois
não poderei – como da primeira vez que saí de casa para fazer minha graduação –
levar mais de um ano para me adaptar. Se assim, passarei todo o tempo do curso
me adaptando, e isso será insuportável. Mas olha eu tentando regrar o tempo,
tambor de todos os ritmos! Este tal, que tem sua própria lógica nada linear.
Toda
a minha geografia está fora do lugar e não sei se isso começou antes ou depois
de eu chegar aqui. Talvez eu estivesse represando tudo, e agora que saí de
minha zona de conforto, as crises mais antigas resolveram aflorar com esse
deslocamento de rota. Parece que elas reconheceram a pequena fresta e chutaram
fora a porta do controle.
Em
tempo de chuva eu sempre falo mais bobagem.
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