Triste estou eu. Pela derrota do
Freixo no Rio.
Ele está ótimo. Feliz da vida? Não.
Realizado? Claro que não. Sem dúvida, não. Só que Marcelo Freixo é um líder, e
como tal, não se deixará abater tão fácil. E eu só tive certeza disso porque
fui lá, na Lapa, ouvi-lo falar. E voltei com um alento: essa história apenas
começou.
Não tinha palanque, e mal tinha
um microfone. No centro de um enorme círculo feito de gente como eu e você, que
eventualmente me lê agora – e não de extraterrestres vindos de um planeta
distante-, ele falou coisas que, para mim, fazem absoluto sentido. Pediu que
não se desmobilizem os mais de cem comitês formados na campanha, e que se
transformem em espaços para se discutir a cidade que se quer viver. E não a
cidade que querem nos empurrar goela abaixo. Porque sempre querem. E muita
gente ainda acha que política não nos diz respeito.
Pois se não diz, deveria dizer.
Poderia dizer. ‘Nada deve parecer impossível de mudar’.
Agradeceu a todos que se
envolveram de uma maneira ou de outra, que militaram, que aguentaram o tranco
de uma campanha desestruturada e descapitalizada. E melhor: sem deixar parecer
que era assim! E narrou com muita graça o dia em que resolveu aceitar o desafio
de se candidatar a prefeito do Rio e foi comunicar isso ao seu xará, Marcelo
Yuka. Convidado a ser vice, Yuka demorou
‘segundos eternos’ a responder, e por fim decretou: ‘Eu já imaginava que você
era maluco. Agora eu tenho certeza’.
Maluco, sem grana, e cheio de
sonhos e de dados muito concretos sobre uma cidade que se torna cada dia mais
vitrine de turista, e que empurra a sua sujeira e a sua pobreza para a mais
moderna e pujante periferia, só que às escuras. Sem metrô, sem saneamento, sem
saúde. Cidade bronzeada e de sorriso
falso, tal qual seu prefeito, tal qual Eduardo Paes.
Eu não sou carioca, e já disse
isso outras vezes aqui. Meus conterrâneos talvez nem me entendam. Mas eu só
escrevo isso hoje porque tive o privilégio de viver essa campanha nesta cidade
que agora é minha sim – por que não? – já que todo mundo é, no fim das contas,
cidadão do mundo. De um mundo cuja lógica econômica, cultural, estrutural,
clama por mudanças. Um mundo que está capenga de coletividade e de cidadania. E
foi isso que Marcelo Freixo propôs, com a sua tão repetida expressão: parceria
com a sociedade civil. E que cada pessoa que também passou a se chamar ‘Freixo’
nas redes sociais sonhou junto.
E sabe do que mais? Se apesar de
tanto vento contrário, essa semente conseguiu achar um solo onde pousar, eu
corrijo: não estou triste. Não poderia. Isso tudo foi, como Freixo disse,
extraordinário.