quarta-feira, 4 de abril de 2012

Não é fácil. É estranho.


Hoje não está sendo um dia fácil. Estou muito irritada e entristecida. Há uma semana me mudei para meu apartamento, um quarto e sala no Catete. Há uma semana eu estava deitada no chão da sala, após receber as chaves e me despedir do proprietário, chorando e rindo, e chorando e rindo, tudo com tanta intensidade que fiquei cansada, e adormeci alguns minutos, ali mesmo, no chão da casa que já era minha. Estava cansada demais, e embora alerta, pois ainda precisava arrumar uma pequena bagagem e viajar para São Paulo, onde passaria meu aniversário com meu irmão, eu cochilei de alívio.

Durante toda essa semana eu trabalhei muito. Fui às aulas, me mantive atenta às discussões, pesquisei preços de móveis, comprei móveis, lavei a casa, lustrei os armários, desfiz finalmente as malas e me apropriei de meu armário gigante. Arrumei um jeito de dormir no colchão de ar e acordei todos os dias antes do despertador, com a luz do sol transpondo o vidro da janela grande e ainda sem cortinas. Peguei carona e comprei mais móveis, coisas de cozinha, e fui riscando as anotações das coisas necessárias para viver só. Ainda não acabei, mas avancei bastante. Ah, e claro, pensei, pensei, pensei. Não há tarefa nenhuma no mundo que consiga desligar essa fantástica fábrica de pensamentos que sou eu. Dos mais otimistas aos mais assombrosos.

No entanto, apesar do progresso, não consigo domar minha paciência. Parece que nunca fiz o suficiente. Parece que está tudo demorando demais para acontecer. Hoje, por exemplo, foi o dia de receber os eletrodomésticos e a cama. Veio a geladeira, o fogão e a máquina de lavar, mas a cama não. Veio, mas não coube no elevador. A entrega foi adiada para segunda ou terça, o que me dá no mínimo mais três dias dormindo no colchão de ar. Isso foi o suficiente para eu cair num choro super dolorido, quase infantil. Como assim não coube a cama? E isso apagou a alegria do resto.

Tenho saudade de tudo. De não precisar pensar em nada disso sobre casa e cozinha. De dirigir. De saber chegar nos lugares. Da minha casa, tão linda com seus quadros todos coloridos e suas portas azuis. Saudade da minha tv, e claro, da minha cama! Saudade das poucas vezes em que o telefone tocava (ele já tocava pouco há um tempo, agora ele não toca de jeito nenhum). Saudade do meu irmão, de procurar sempre a luz acesa do quarto, pra saber se ele estava em casa, caso não estivesse no computador. Do meu pai, já nos víamos e falávamos tão pouco que ainda não processei que agora será menos ainda. Saudade da tapioca e do feijão de corda. Da Rafa e da luna. Da Irá e da sopa de quinta-feira. Do cheiro de casa limpa.

Mas a maior saudade é mesmo da minha mãe. De xingar aquele trânsito horroroso até busca-la no trabalho e a gente vir conversando sem parar, quase sempre sem parar. Saudade da sopa que ela faz, ou do arroz com queijo que é sempre uma delícia, o melhor de todos. Posso fazer igualzinho, mas não tem o mesmo sabor. Do abraço dela e do beijo que não é nem na bochecha, nem no nariz, mas na dobrinha que existe entre os dois. Saudade do ‘boa noite’, e do ‘bom dia’ também. Até da bananada que ela às vezes insistia em me empurrar, dizendo sempre que banana tem potássio e é boa para a circulação, eu tenho saudade. Porque ela é a minha maior companheira, e com ela eu nunca me sinto só.

Não quero ir na casa de ninguém. Apesar de já ter algumas manifestações de carinho e amizade aqui no Rio, da Cláudia e do Zé, eu não quero fingir que não dói. Também não há intimidade para que eu apenas fique em silêncio, ou chore, se for essa a minha vontade. Não tenho desprendimento para tanto.


Hoje não está sendo um dia fácil. E está comprido pra caramba.


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