Hoje
não está sendo um dia fácil. Estou muito irritada e entristecida. Há uma semana
me mudei para meu apartamento, um quarto e sala no Catete. Há uma semana eu
estava deitada no chão da sala, após receber as chaves e me despedir do
proprietário, chorando e rindo, e chorando e rindo, tudo com tanta intensidade
que fiquei cansada, e adormeci alguns minutos, ali mesmo, no chão da casa que
já era minha. Estava cansada demais, e embora alerta, pois ainda precisava
arrumar uma pequena bagagem e viajar para São Paulo, onde passaria meu
aniversário com meu irmão, eu cochilei de alívio.
Durante
toda essa semana eu trabalhei muito. Fui às aulas, me mantive atenta às
discussões, pesquisei preços de móveis, comprei móveis, lavei a casa, lustrei
os armários, desfiz finalmente as malas e me apropriei de meu armário gigante.
Arrumei um jeito de dormir no colchão de ar e acordei todos os dias antes do
despertador, com a luz do sol transpondo o vidro da janela grande e ainda sem
cortinas. Peguei carona e comprei mais móveis, coisas de cozinha, e fui
riscando as anotações das coisas necessárias para viver só. Ainda não acabei,
mas avancei bastante. Ah, e claro, pensei, pensei, pensei. Não há tarefa
nenhuma no mundo que consiga desligar essa fantástica fábrica de pensamentos que
sou eu. Dos mais otimistas aos mais assombrosos.
No
entanto, apesar do progresso, não consigo domar minha paciência. Parece que
nunca fiz o suficiente. Parece que está tudo demorando demais para acontecer.
Hoje, por exemplo, foi o dia de receber os eletrodomésticos e a cama. Veio a
geladeira, o fogão e a máquina de lavar, mas a cama não. Veio, mas não coube no
elevador. A entrega foi adiada para segunda ou terça, o que me dá no mínimo
mais três dias dormindo no colchão de ar. Isso foi o suficiente para eu cair
num choro super dolorido, quase infantil. Como assim não coube a cama? E isso
apagou a alegria do resto.
Tenho
saudade de tudo. De não precisar pensar em nada disso sobre casa e cozinha. De
dirigir. De saber chegar nos lugares. Da minha casa, tão linda com seus quadros
todos coloridos e suas portas azuis. Saudade da minha tv, e claro, da minha
cama! Saudade das poucas vezes em que o telefone tocava (ele já tocava pouco há
um tempo, agora ele não toca de jeito nenhum). Saudade do meu irmão, de procurar
sempre a luz acesa do quarto, pra saber se ele estava em casa, caso não
estivesse no computador. Do meu pai, já nos víamos e falávamos tão pouco que
ainda não processei que agora será menos ainda. Saudade da tapioca e do feijão
de corda. Da Rafa e da luna. Da Irá e da sopa de quinta-feira. Do cheiro de
casa limpa.
Mas
a maior saudade é mesmo da minha mãe. De xingar aquele trânsito horroroso até
busca-la no trabalho e a gente vir conversando sem parar, quase sempre sem
parar. Saudade da sopa que ela faz, ou do arroz com queijo que é sempre uma
delícia, o melhor de todos. Posso fazer igualzinho, mas não tem o mesmo sabor. Do
abraço dela e do beijo que não é nem na bochecha, nem no nariz, mas na dobrinha
que existe entre os dois. Saudade do ‘boa noite’, e do ‘bom dia’ também. Até da
bananada que ela às vezes insistia em me empurrar, dizendo sempre que banana
tem potássio e é boa para a circulação, eu tenho saudade. Porque ela é a minha
maior companheira, e com ela eu nunca me sinto só.
Não
quero ir na casa de ninguém. Apesar de já ter algumas manifestações de carinho
e amizade aqui no Rio, da Cláudia e do Zé, eu não quero fingir que não dói.
Também não há intimidade para que eu apenas fique em silêncio, ou chore, se for
essa a minha vontade. Não tenho desprendimento para tanto.
Hoje não está sendo um dia fácil. E está comprido pra caramba.
Hoje não está sendo um dia fácil. E está comprido pra caramba.
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