terça-feira, 2 de abril de 2013

400 é pouco?

Um ano. Quando o Rio de Janeiro fez 448 anos, eu apaguei a primeira velinha de aniversário da jornada de piá.


Foi a rádio do táxi que me deu essa informação na chegada. E achei engraçada a coincidência. Estávamos em festa, a cidade e eu. Curtindo a espreita do novo. Ou do velho que reincide e se renova. Sentindo. Rangendo. Amadurecendo. Tudo do jeito que eu gosto, no gerúndio.

Olho em volta e cada centímetro do meu apartamento é um mosaico dessa história. Os quadros, os armadores para redes, as cortinas, o carrinho de feira, a plantinha ressentida, as fotos na parede ao lado da mesa do computador... Tudo existe por escolha e determinação minhas. Tudo cheira a mim. Tem a cor dos meus dias e o som das minhas gargalhadas. Tem o ecoado triste de todas as lágrimas. Tem a lembrança de todo mundo que já veio e já foi. Meu rastro num álbum de concreto: teto, parede, chão.

Não parece que foi ontem. 400 dias de desconstrução, negação e reafirmação.

Para ser sincera, às vezes eu acho que já fiquei tempo demais. Ou desaprendi a medida do tempo para cada coisa tomar seu rumo. E assim a pressa parece que se arrasta.

Durante as férias (nem tão férias assim), em Fortaleza, fiquei um bom tempo imersa no mestrado, dedicada a dois trabalhos: da disciplina de Saúde, Mídia e Mediações, e da disciplina de Memória, Mídia e Doenças. Nas duas situações eu tinha a opção de escrever uma relação da disciplina com o meu objeto de pesquisa, mas só consegui fazer isso em uma delas. A interdisciplinaridade não é sempre. O resultado foi ótimo: de um lado cresci na tão aclamada relação da mídia e da saúde (que é minha área de interesse), e de outro me apaixonei por Memória. Pena não tê-la encontrado antes.

Voltei ao Observatório de Saúde e Mídia logo depois do carnaval. Meu trabalho lá consiste em ler algumas edições de jornal por dia, geralmente de um mesmo jornal, e mapear como a saúde aparece no discurso da imprensa, separando todas as notícias com indícios dessa busca. Mas não se enganem com a aparente simplicidade da missão. Pois nem é fácil definir saúde, nem ela se revela óbvia a qualquer piscadela. Caço em silêncio, para não assustar o discurso.

Registrados os achados, vou-me embora quase sempre me sentindo tecnicamente depressiva. Ler jornal só faz bem pra saúde enquanto dado de pesquisa. A mente e a alma ficam péssimas.

Enquanto não começavam as aulas, dediquei meu tempo à tão ansiada qualificação. Escrevi a revisão bibliográfica e agora estou construindo em paralelo a introdução e o referencial teórico. A dura tarefa de aprender a ser pesquisadora se torna mais fácil com uma orientação presente, agendada e cumprida. Dói, cansa, mas me agiganta. Meus companheiros agora são Bourdieu, Verón, Traquina, Oliveira, Araújo, Milton Pinto, Sacramento... São difíceis eles, personalidade forte demais!

Nessa semana apresentei o blog aos novos alunos de mestrado e doutorado do PPGICS, a convite da professora Inesita. Foi engraçado porque pela primeira vez eu senti um medo que nunca senti aqui, nesta disciplina. Medo do que iam pensar de mim, do que exponho, do que dou, pela palavra, validade e importância. Só ali eu percebi que sou o contraponto. Que pelo blog, me expus mesmo, sem pecado e sem juízo. Não me arrependo, mas revejo a proposta de relação que quero ter com o mundo que acessa a internet. É difícil, porque eu gosto de compartilhar. Mas por que? Como? Para quem? Perguntas.

Deve ser por isso que hoje a escrita está rígida. Está assustada, coitada. Acuada num canto escondido de mim. Está como eu estou, na reserva. No meu outono íntimo.

Quando a gente menos esperar, floresço outra vez.