Bula: Se você lida muito bem com
a contemporaneidade e não se considera uma pessoa com muitas questões, não
prossiga a leitura. Pra você, isso não vai passar de muito mi-mi-mi.
Mesa de bar. Pessoas novas pra
mim. Velhas queixas universais. De repente uma das presentes pergunta à amiga
dela, sentada à sua frente: 'dá pra eu tirar uma cartinha só, por favor'?! Ao que
amiga responde: 'claro, deve'. De acordo com a descrição da pedinte, minha
expressão facial, desta que vos escreve, se transformou. Fiquei absurdamente
interessada e quase sentei no colo da amiga, que tirava da bolsa suas cartas
de Tarô! Realmente devia se fazer um estudo cruzando mulheres x Tarô x
interesse. O resultado seria qualquer coisa exagerada, absurda e
desproporcional.
Por uma cerveja e por piedade da
minha condição suplicante, a amiga me deixou tirar três cartas. Antes eu
deveria fazer uma pergunta, e confesso que essa foi a parte mais difícil. Ando
tão cheia de dúvidas que foi dureza manter um foco. Perguntei então sobre o que
mais tem me incomodado recentemente: essa minha relação com a solidão. Com o
fato nada abstrato de estar só, nesta espécie de exílio que eu não procurei,
mas que talvez fosse – antes dos 30 – realmente necessário.
A resposta foi estranha. As
cartas, coitadas, se espremeram pra me dizer alguma coisa e tudo o que saiu
foi: ‘seja quem for a pessoa, desista. Cuide de você. Não se exponha tanto. Essa
expectativa não vai te fazer bem. Coisas melhores virão’. Silêncio na mesa. A
amiga, talvez interessada na combinação das cartas, me disse ao guardar o
baralho: se quiser, marca depois, pra gente ver isso com mais calma.
Apesar dos ruídos, consigo fazer
uma relação mínima entre o que disseram as cartas, confusas com o barulho do
bar, e aquela tarde de quarta-feira, há quase dois anos, quando resolvi
consultar o japonês místico que estava a fazer sucesso em Fortaleza, utilizando
cartas, pêndulos, combinações de números importantes das vidas das pessoas. Naquele
dia ouvi que minha chegada aos 30 seria uma jornada dura, pois a vida me exigia
decisões que eu não estava tendo consciência e coragem de tomar. Mas que eu
teria que fazê-lo e que isso seria uma jornada particular e solitária. Nem
namorado haveria para me ajudar!
Hahaha. Foi uma orientação ou uma
praga?
Talvez alguns de vocês que vão
ler este post não acreditem em nada disso. E até achem muito óbvia a
constatação de que a chegada aos 30 é um período diferente de tomada de
decisão, de entrada definitiva na vida adulta. Hora de amarrar realmente os cadarços
e correr atrás do que vamos querer ver realizado para os próximos 20, 30, 40
anos...
Mas alguma coisa naquelas cartas
consolou meu fluxo de lamentações. Não estou lidando bem com este período de
reclusão. Com esta cidade que eu não entendo. Com estes 29 anos. Ando tão
instável que até cheguei a achar que a coisa mais importante que eu devia
aprender agora era a jogar sinuca, pra ver se isso me ajudava a ser mais
sociável e ‘aceita’. É tão adolescente isso! Será que eu estou sofrendo mesmo é
uma adolescência tardia, de uma espécie de complexo de Peter Pan? Será que a
garota nota 10 enfim entrou em crise e resolveu enfiar os pés pelas mãos?
Recentemente conversando com uma
amiga de infância, senti um grande alívio quando ela disse: ‘Ai, amiga, eu
pensava que quando chegasse aos 30 anos seria uma pessoa totalmente diferente.
Saberia de tudo! Mas vejo que quanto mais o tempo passa, menos eu sei sobre a
vida, as pessoas’. Ufa! Não estou só, graças aos deuses, anjos e santos do
mundo. E saber sobre a vida e as pessoas, honestamente, tem me parecido um
desafio muito maior do que consigo suportar. Se eu conseguir, passada essa
jornada, saber qualquer coisa a mais sobre mim, já será de bom tamanho.
Até lá é sustentar o conselho,
que estou inclusive furando ao escrever este post: me cuidar, não me expor
tanto e acreditar que muita coisa boa ainda há de chegar pra mim.
Amém.