sábado, 18 de agosto de 2012

Mi-mi-mi


Bula: Se você lida muito bem com a contemporaneidade e não se considera uma pessoa com muitas questões, não prossiga a leitura. Pra você, isso não vai passar de muito mi-mi-mi.

Mesa de bar. Pessoas novas pra mim. Velhas queixas universais. De repente uma das presentes pergunta à amiga dela, sentada à sua frente: 'dá pra eu tirar uma cartinha só, por favor'?! Ao que amiga responde: 'claro, deve'. De acordo com a descrição da pedinte, minha expressão facial, desta que vos escreve, se transformou. Fiquei absurdamente interessada e quase sentei no colo da amiga, que tirava da bolsa suas cartas de Tarô! Realmente devia se fazer um estudo cruzando mulheres x Tarô x interesse. O resultado seria qualquer coisa exagerada, absurda e desproporcional.

Por uma cerveja e por piedade da minha condição suplicante, a amiga me deixou tirar três cartas. Antes eu deveria fazer uma pergunta, e confesso que essa foi a parte mais difícil. Ando tão cheia de dúvidas que foi dureza manter um foco. Perguntei então sobre o que mais tem me incomodado recentemente: essa minha relação com a solidão. Com o fato nada abstrato de estar só, nesta espécie de exílio que eu não procurei, mas que talvez fosse – antes dos 30 – realmente necessário.

A resposta foi estranha. As cartas, coitadas, se espremeram pra me dizer alguma coisa e tudo o que saiu foi: ‘seja quem for a pessoa, desista. Cuide de você. Não se exponha tanto. Essa expectativa não vai te fazer bem. Coisas melhores virão’. Silêncio na mesa. A amiga, talvez interessada na combinação das cartas, me disse ao guardar o baralho: se quiser, marca depois, pra gente ver isso com mais calma.

Apesar dos ruídos, consigo fazer uma relação mínima entre o que disseram as cartas, confusas com o barulho do bar, e aquela tarde de quarta-feira, há quase dois anos, quando resolvi consultar o japonês místico que estava a fazer sucesso em Fortaleza, utilizando cartas, pêndulos, combinações de números importantes das vidas das pessoas. Naquele dia ouvi que minha chegada aos 30 seria uma jornada dura, pois a vida me exigia decisões que eu não estava tendo consciência e coragem de tomar. Mas que eu teria que fazê-lo e que isso seria uma jornada particular e solitária. Nem namorado haveria para me ajudar!

Hahaha. Foi uma orientação ou uma praga?

Talvez alguns de vocês que vão ler este post não acreditem em nada disso. E até achem muito óbvia a constatação de que a chegada aos 30 é um período diferente de tomada de decisão, de entrada definitiva na vida adulta. Hora de amarrar realmente os cadarços e correr atrás do que vamos querer ver realizado para os próximos 20, 30, 40 anos...

Mas alguma coisa naquelas cartas consolou meu fluxo de lamentações. Não estou lidando bem com este período de reclusão. Com esta cidade que eu não entendo. Com estes 29 anos. Ando tão instável que até cheguei a achar que a coisa mais importante que eu devia aprender agora era a jogar sinuca, pra ver se isso me ajudava a ser mais sociável e ‘aceita’. É tão adolescente isso! Será que eu estou sofrendo mesmo é uma adolescência tardia, de uma espécie de complexo de Peter Pan? Será que a garota nota 10 enfim entrou em crise e resolveu enfiar os pés pelas mãos?

Recentemente conversando com uma amiga de infância, senti um grande alívio quando ela disse: ‘Ai, amiga, eu pensava que quando chegasse aos 30 anos seria uma pessoa totalmente diferente. Saberia de tudo! Mas vejo que quanto mais o tempo passa, menos eu sei sobre a vida, as pessoas’. Ufa! Não estou só, graças aos deuses, anjos e santos do mundo. E saber sobre a vida e as pessoas, honestamente, tem me parecido um desafio muito maior do que consigo suportar. Se eu conseguir, passada essa jornada, saber qualquer coisa a mais sobre mim, já será de bom tamanho.

Até lá é sustentar o conselho, que estou inclusive furando ao escrever este post: me cuidar, não me expor tanto e acreditar que muita coisa boa ainda há de chegar pra mim.

Amém.


quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Ao hoje, ao sempre


Se segura que lá vem história! Hahaha. Hora de tirar a poeira do blog. De procurar de novo o fio da pipa-mestrado que soltei quando o semestre acabou! Ah, eu estava cansada demais! Tão enjoada, tão irritada, que só não causei prejuízos ao apartamento e a mim porque meu pai estava aqui comigo, e me salvou de possíveis demonstrações de insanidade. Calma, não sou suicida! Só a mais impaciente das criaturas sobre a Terra, e foi difícil ser anfitriã dele numa cidade de onde eu queria ir embora correndo, o mais rápido possível.

Não, o Rio não é um lugar ruim. Minha casa tranquila e cheia de cantos de pássaros, tampouco. O que eu não gosto é desta aparente imposição de felicidade que reside na afirmação ‘eu moro no Rio de Janeiro’. Como se o fato da cidade ser linda e cheia de alegrias possíveis anulasse completamente o lado sombrio da vida e de mim. Sim, eu estou aqui e este ‘eu’ tem milhões de coisas com as quais lidar que não desaparecem mirando o Cristo Redentor. Podem dar um tempo, mas retornam, e muitas vezes com uma força demolidora. 

Mas cumpri minhas tarefas, me impus o exercício de viver as alegrias possíveis na presença do Zé, fechei o primeiro ciclo e fui pra casa. Estava tão ansiosa que era capaz de esquecer meu pai no aeroporto, se ele não tivesse tão grudadinho em mim! Haha. E algumas horas depois, no dia 3 de julho, lá estava ele, meu apartamento-casa, com a porta aberta pela minha mãe! Tão linda de camisa verde-limão! E tudo parecia pulsar em 3D! As samambaias da varanda, os tacos do chão da sala, os quadros e suas projeções de flores, dançarinos e jardins. Meu quarto e os mais de 500 vinis! Meu palhaço de pano na cabeceira da cama e os ruídos de automóvel da janela com cortinas.

É que a gente só se dá conta da quantidade de energia que põe nas nossas coisas quando nos afastamos delas! E mesmo que eu admire as pessoas desapegadas, os cidadãos do mundo, os andarilhos e mochileiros, acho que a coisa mais positiva que me aconteceu nos últimos anos foi perceber que eu não sou assim. Sou planta de raiz e não sei se algum dia conseguirei ser diferente. E essa raiz inclui, além da família, a casa, os amigos, os lugares certos para fazer qualquer coisa. Quer ver? Existe sorvete melhor que o do Juarez? Por enquanto não. Existe depilação mais perfeita que a de Cleide? Jamais. E céu mais lindo que o de Teresina? Pas. Então por que haveria lugar melhor que o meu lar? 

E foi um mês lindo! Afinal estar de férias é, especialmente, estar num outro estado de espírito. Desconfio de pessoas que tiram férias e não param de checar os e-mails, como se justamente naquele mês tão anunciado nas suas próprias redes sociais elas fossem receber um mega prêmio inadiável, em dinheiro ou em pílulas de sucesso e juventude eterna! Férias são férias e eu realmente as levo a sério. Me abandono sem culpa, porque não basta abandonar computador e celular. Minha rotina, minhas manias, meus sintomas. Todo dia é belo, mesmo se nele a gente reencontra, numa caixa abandonada do armário, uma foto dum ex que nos fez sofrer pra caralho ou um bilhete de alguém que não lembra mais de você. Tudo é lucro.

A velha guarda me deu suas bênçãos. Família, família, família. Minha mãe estando em tudo, seguindo meu rastro, espreitando meu tempo, cuidando do meu baú de faltas. Avó, tia, primas. Meu pai e minha mãezinha de criação. Minha afilhada. Tudo que veio antes de eu estar aqui, e que continua no meu depois, num tempo sem data e farto de amor.

Virei outra vez uma das meninas super poderosas do antigo trabalho, com poderes de sair para almoçar e esquecer a hora de voltar pro trampo. Tive a honra e a glória de poder estar com a loirinha no samba, na batucada, no ziriguidum, no bem de Jor ou da Cachorra. De viver com a pequena o arrastar de uma última segunda-feira sem trabalho, com latidos, lambidas e risadas. De comer crepe, de ver fotos e de descobrir que ainda preciso ir à Argentina, e não apenas em Buenos Aires. De chegar mais de 10 da noite na casa do meu chocolatim, e ainda ter o abraço dela, a mãe dela e a torta de pavê da casa dela esperando só a minha presença! Conheci a casinha nova da preta, de sofá reciclado e azulejos nas paredes com mensagens de amor. E o amor dela, que fala português de Portugal, e já sabe preparar tapiocas recheadas de queijo e, às vezes, manjericão. 

As amigas ainda mais antigas. As de colégio e esfirras, de biscoito de chocolate no recreio e diários ultrassecretos em domingos, trancadas em nossos quartos. Ah, mas continuam lindas! E as que já deram crias. Crianças que já vieram e me espantaram completamente, porque tomaram na minha ausência uma pílula de crescer, e com as quais seria capaz de conversar horas, com minha vocação petit prince, sobre jiboias que engolem elefantes. E as que ainda estão por vir. Na barrigona, no chá com cheiro de boas vindas!

Os ex-amores e as novas histórias que não puderam florescer... Mas isso fica prum outro post, num outro dia qualquer.

O que eu queria realmente era reabrir essa casinha. Este espaço que não pode ficar muito tempo sem mim e todas as minhas gratidões. Ao que aprendo, ao que desaprendo. Ao que aceito e ao que rejeito. A todos que seguem comigo e que me saciam a bruta necessidade de ser amor. À vida. À jornada. 

Jornada de piá.