sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos

Das coisas que sempre acreditei na vida, dentre as principais, está a diretriz: se queres algo, faças acontecer. Não temas. Escuta teu coração, e ele te indicará o caminho. No mais, só há o tempo aparando as arestas, dando o ponto certo à matéria úmida da vida. Parece comercial de margarina, mas é puro existencialismo. O modo como já estou me afeiçoando à nova moradia, à nova cidade, ao novo modo de fazer as coisas acontecerem, só me indica que acertei na escolha. Já sei que às 13h40 minutos, pouco mais ou menos, passa no ponto o ônibus que me leva à Universidade Federal de Juiz de Fora todas as quartas, para minha disciplina optativa. Sei também que se há barulho demais de periquitos na minha casa, é porque eles certamente entraram pela janela da cozinha e estão fazendo uma festa entre a pia e o fogão. Sei que o céu quase sempre avisa quando vai chover, e é bom não esquecer-se de estar protegido quando este momento chegar. Minha nova pequena-metrópole não tem tantos mistérios, e é por isso que já gosto tanto dela. Seu adormecer e amanhecer parecem já ter me recebido de pronto, e só preciso estar um pouco simpática ao seu ritmo. Tudo flui.

Há poucos dias tive minha primeira reunião de orientação do doutorado. Finalmente apresentei à Katia, orientadora queridona, minha proposta inteira de estudo, e afinamos muitos detalhes importantes. Farei uma etnografia de um serviço público, tomando como objeto/fio condutor a busca pelo cuidado de gestantes atendidas pelo SUS em Juiz de Fora. Quero compreender como o itinerário terapêutico oficial é moldado pelas informações, pelas mediações e pelas memórias que tais gestantes acionam durante suas gestações. Metade dessa escolha foi motivada por questões pessoais, e outra metade foi motivada pelo impacto que sofri ao assistir ao vídeo da Pesquisa Nascer no Brasil, coordenada pela Fiocruz, e que me apontou como esses três elementos articulados – informação, comunicação e memória – são extremamente significativos no processo de preparação para a chegada de um bebê, que se concretiza com a realização do parto. O parto se tornou, não à toa, um processo muito dolorido, cercado de desinformação e medo, e sei que nós, comunicadores da saúde brasileiros, temos (ou podemos ter) muito a ver com isso.

Comecei o processo de pesquisa pelo levantamento bibliográfico. Estou em estado de apaixonamento por etnografias. De alguma maneira, a perspectiva de estar em campo, de lidar diretamente com as pessoas afetadas (no bom e no mal sentido) pelas políticas públicas de saúde, me estimula fortemente. Já disse e vou repetir: adoro estudar discursos, e continuo acreditando que falar é uma forma poderosa de fazer, de agir. Mas neste momento eu queria “meter a mão numa cumbuca”, como diz nossa querida professora Adriana Aguiar, mais dotada de humanidade, literalmente. Com presença de gente sem filtro (no filter). O que já sei, e trago de trunfo, é que pesquisas etnográficas que levam em consideração os sujeitos e seus contextos, e não as doenças ou demais fatores de mobilização, são mais raros, e, portanto, asseguram importância nesses tempos. O próximo passo é identificar o lócus para o ponto de partida da pesquisa – será uma Unidade Básica de Saúde, um hospital, um grupo de militância virtual? Penso que vai depender da receptividade desenvolvida a partir dos contatos iniciados.

No fundo, no fundo, tenho percebido que estar vivo, e atento aos movimentos do mundo, é uma grande etnografia, com o benefício de ser descompromissada do Lattes. As madrugadas em claro sem conseguir dormir com medo de perder o ônibus de 4h da matina; as companhias exóticas das poltronas ao lado; as chegadas à lamacenta e hierárquica rodoviária do Rio; a complacência com tantos que, como eu, persistem em seus itinerários diários ou semanais (ficamos até um pouco parecidos); a necessidade de vestir nossa capa protetora imaginária para enfrentar a conquista do ônibus em pleno fluxo para a Avenida Brasil. Tudo isso diz tanto! As cidades e seus personagens gritam um silêncio dolorido da labuta. Quem os escuta?

Sigamos o percurso do tempo. O ano que finda, por todas as transformações, já foi muito bom.


quinta-feira, 2 de julho de 2015

Fora da nova ordem pessoal

Estou inquieta. Alguma coisa, dentro ou fora, segue fora da ordem.

Mudei de janela. Neste caso a troca foi injusta. Agora, ao invés de árvores rebeldes e bem-te-vis serelepes, vejo avenida, edifícios e zum-zum-zuns de carros. Não se pode ter tudo, é fato. Mas sigo na tentativa incansável de refazer meu ninho. Deixei o Rio porque já não podia mais com ele. Sendo tão complexa a explicação, resumo sem abrir mão das reticências: o Rio de tornou muito pra mim... Muito complexo, muito inexplicável, muito cansativo. E eu, que vinha fugindo das zonas de conforto, precisei ficar retroativa. Voltar ao ponto em que o calo começou a se fazer notável e me perguntar se havia cura. Mas já era tarde. A leveza das pedaladas nas manhãs de domingo não foi suficiente para manter acesa a chama de amor pelo “purgatório da beleza e do caos”. Eu não queria mais sumir nele. Não queria que meu desejo de uma vida mais simples e mais plena fosse reduzido a ensolarados passeios pelo aterro. Eu queria mais.

Queria morar num lugar onde eu conseguisse fazer amigos substanciosos. Onde eu pudesse lhes apresentar, sem medo de parecer ingênua, como é gostosa a intimidade do lar. Como são bons os dias de “casa aberta em noite de festa”. Queria viver num lugar onde ainda fosse possível ser bem tratado numa loja, num restaurante, num supermercado, sem que as relações de consumo precisassem ser tão grosseiras como são no Rio. Onde o trabalho fosse um espaço também de prazer, e não apenas de obrigação como parece ser, e por isso tão mal executado. Queria morar num lugar onde eu pudesse viver como bolsista, e casada, sem precisar estar numa zona ruim da cidade – sem mobilidade, sem segurança, sem energia alguma no fim do dia. Enfim, queria morar numa cidade que ainda não tivesse aprendido tão fortemente a explorar – uns aos outros, a cidade em si, o tempo e o espaço que nos provêm a custos tão exorbitantes. Uns chamam de desejo de qualidade de vida. Parece uma boa definição. Prefiro chamar de desejo de equilíbrio, fundamental para quem, como eu, fiz um pacto com a matéria subjetiva de que sou feita.

Troquei a casinha minúscula por uma casa normal (mais apta a abrigar as visitas que serão queridas), a cidade medonha por uma de médio porte, os trajetos apreensivos pelo caótico trânsito da cidade, guiados quase sempre por motoristas muito ruins, por algumas horas de ônibus em estradas montanhosas e com vista vasta para o céu. Não sei prever o que me espera neste aqui e agora, neste Juiz de Fora. Sei do frio. Sei do silêncio interno do prédio. Sei das caminhadas ladeiras acima e abaixo.  Sei do sotaque mineiro, ainda que se diga que aqui nem é tão Minas assim. O “cadinho” que é já me afaga. Sei que quero me apaixonar de novo pelo espaço que habito e, quem sabe, avançar o nível no sentimento de pertença que me é tão caro e tão raro. Quero entrar nas Minas amadas pelas bordas, e me embrenhar nelas.

O projeto do doutorado vai, assim, sofrer um deslocamento de campo. Quando ingressei, propus estudar usuários do SUS do Rio de Janeiro. Agora é provável que Juiz de Fora entre na pesquisa. Um estudo comparativo da etnografia informativa/comunicativa? Ou um deslocamento total? A primeira reunião de orientação, que ainda não aconteceu por conta da licença de pós-doutorado de minha orientadora, já tem a tarefa de aparar essas arestas.

Sei que equacionar desejo de pesquisa, com necessidade de pesquisa, com peculiaridades do espaço e tempo em que habitamos, com nossa vontade de potência... ufa... é uma tarefa difícil demais. Mas essa disciplina de portfólio tem me mostrado que estou bem acompanhada. Ela se tornou uma ponte entre mim e os demais colegas de turma, já que não estou com eles na maior parte das disciplinas, haja vista aquelas que consegui dispensar por ser egressa desse programa de pesquisa. É bom ver os questionamentos problematizados não apenas nas apresentações, mas nos fóruns que nos desarmam e desnudam cotidianamente. Cada vez mais raras, essas vivências são as que definitivamente nos marcam.

Por fim, queria registrar que ainda estou sobre este impacto da mudança de cidade, de casa e todo o pacote de referências que vem junto disso. Dia desses fiquei tão atordoada com essas coisas todas que resolvi trabalhar, como saída para ancorar minimamente o pensamento. Comecei o exercício de revisitar minha dissertação para ver o que posso aproveitar em artigos, em apresentações para eventos próximos etc. E foi tão bacana fazer isso! Relembrar a tessitura da obra, resgatar as razões que mobilizaram a escolha das análises, a divisão em capítulos... reconhecer a autora que me tornei através de um processo tão legítimo de construção, composto de todos os erros e acertos próprios. Fiquei orgulhosa. E vi que às vezes, quando tudo parece bagunçado dentro e fora da gente, basta acionar os dispositivos de memória que possam nos lembrar de quem nós somos – de onde viemos e o que nos trouxe até aqui.

A ordem, desordenada que seja, vai achar o seu caminho de volta.


domingo, 26 de abril de 2015

O primeiro Portfólio. Pela segunda vez.

15 de maio de 2014. Dormi muito mal na noite anterior. Um sono leve, fragmentado, repleto de pequenos sonhos expressionistas. Clarisses deformadas sofriam em tribunais antigos. Acordei tensa e mal humorada. Chequei a bolsa pela milésima vez antes de sair de casa: pen drive, ok, dvd, ok, arquivo no dropbox, ok. Na dúvida, resolvo de última hora levar meu próprio notebook. No ponto de ônibus, acompanhada do meu atual namorido, espero o 498 ou o 497 que nunca chegam. Penso: o suco na bolsa vai começar a descongelar e vai esquentar, além de molhar tudo. Resolvo pegar um táxi. No caminho, o motorista relapso bate na traseira de um ônibus. Ainda que de leve, demora um tempo a resolver. 15 minutos que pareceram uma perfeita eternidade. Minha barriga doía. Imaginava Kátia me esperando para uma pré-apresentação antes da sabatina oficial. Suava frio.


Minha defesa do mestrado aconteceu depois de muito medo, de uma luta intensa entre a senhora da dissertação de título grande, e a Piá assustada com o fim do ciclo, e com a necessidade de expor de forma madura a pesquisadora que havia nascido nos dois anos e dois meses que antecederam a data. Sofri por tudo: pelo ritual de apresentação, pela sala ficando cada hora mais cheia, pelo tempo curto, pela cabeça doendo... talvez de fome, de ausência de tudo que não consegui comer e que as infinitas idas ao banheiro antes da apresentação terminaram por levar embora. No final, ah o final, deu tudo mais do que certo. Talvez tenha sido exatamente o sofrimento que me fez perceber que aquilo era só uma devolução de chaves. A travessia pela sala por horas escura, por horas iluminada do aprendizado do mestrado eu já havia superado, e a porta eu transpus quando entreguei as versões impressas do trabalho.

O dia da defesa do mestrado, sorriso de alívio

8 de dezembro de 2014. Trabalhando no portal de notícias da Fiocruz, retorno do almoço na cantina e visito o site do Icict, sem muita esperança de que o resultado da seleção já tenha sido divulgado. Coração vem na boca quando leio a notícia “Sai relação de aprovados para o Doutorado 2015 do PPGICS”. Sem nomes, a lista revela a classificação pelo número de inscrição. E eu estou lá, aluna do PPGICS mais uma vez! O fio da memória me leva de volta ao final de 2011, quando também abancada em minha mesa de trabalho no Cosems, li sozinha o resultado final de um processo que fiz em segredo. Diferentemente de agora, quando os professores, corredores e trajetos já me são de algum modo íntimos, naquele tempo eu não tinha noção do que me esperava. Neste 2014, novamente em silêncio, checo diversas vezes antes de anunciar aos colegas de sala. Sou eu mesma, não há mais dúvida, materializada numa sequência impessoal de números. Muitos abraços chegaram com a novidade, e minha mãe, do outro lado da linha telefônica, gritou muito mais do que eu.

Turma PPGICS 2012

Algum dia do mês de fevereiro de 2015. Os dias que seguiram após o resultado vieram recheados de fortes emoções e toneladas de questões. Conseguiria permanecer no trabalho e cursar o doutorado ao mesmo tempo? Ou, no oposto disso, daria conta de voltar a ser somente bolsista? Não era só uma questão financeira, mas era também. Hoje eu sei o quanto custa o Rio, em todos os sentidos. Vivo numa cidade cuja especulação imobiliária duplicou o valor do quarto e sala em que vivo desde sempre. Visitar a família tornou-se um evento mais raro a cada ano, e sofri muito com isso. A cidade me deu o aterro do Flamengo aos domingos, e o Jardim Botânico em todas as crises de mesquinharia. Mas eu vi de perto um tiroteio, e cansei de tentar entender a dinâmica da Avenida Brasil. Não sou mais a piá de antes. Soterrei em algum clássico túnel carioca a minha ingenuidade de outrora, e ainda pelejo para construir novas formas de desenvolver meus afetos, em códigos culturais tão distintos dos meus de origem.

Nuns dias, a perspectiva de seguir dando asas à pesquisadora dentro de um programa de pesquisa que eu gosto, com pessoas com as quais me identifico fortemente, me enchia de alegria e orgulho. Noutros dias, o horizonte de mais quatro anos de Rio e de todas as contradições que estar aqui representam pra mim, se transformavam em medo de enfrentar outra vez essa jornada. Agora não é mais o desconhecido que me assusta, mas justamente o que eu vi e vivi ao longo dos três anos completos exatamente no aniversário de 450 anos da cidade. Talhou-se uma adulta, e meu desafio hoje é não deixar que a Piá se torne muda.

17 de março de 2015. Meu aniversário de 32 anos. Já estou vivendo os últimos dias como jornalista do portal. Não poderei ficar. Tanto por uma política de capacitação de terceirizados inexistente na Fundação quanto pelo meu próprio reconhecimento e aceitação de que eu não conseguiria me dedicar ao doutorado como gostaria se continuasse trabalhando, optei pela vida de estudante outra vez. E como bem disse uma amiga querida: que bom que pude fazer isso, que tive o mérito dessa escolha. Comemorei a data vindo para o primeiro dia de aula da disciplina Ciência, Meio Ambiente e Saúde: os desafios da divulgação científica na atualidade. Hoje ela ocupa as minhas tardes de terça, e durante as manhãs estou em Seminários I, vivendo a experiência de me localizar aos poucos numa turma nova, que já tem os seus modos de ser, de agir e de conviver, aos quais pertenço apenas em partes, total coadjuvante.


Equipe do Portal de Notícias da Fiocruz

Minha pesquisa, espero, será a realização de outro sonho: o de ouvir os usuários do SUS. Compartilho da ideia de que informação e comunicação são partes intrínsecas do processo de construção de um itinerário terapêutico. Mas quais as informações que eles dispõem e acessam quando precisam usar um serviço de saúde? O quanto há de suas respectivas culturas influenciando na tomada de decisão? Como a memória social, e coletiva, e as mediações que acontecem nos territórios dão vazão ao caminho que eles desenvolvem, a despeito do itinerário oficial determinado pelo Ministério da Saúde? Esses usuários são em algum momento consultados, ou suas autonomias são respeitadas nesse processo? Quero estar com eles, e ouvir deles as relações de poder implicadas na dinâmica de suas fragilidades.

Sei que tenho um longo caminho pela frente. E sei que as dores e alegrias serão distintas das que vivi quando saí de casa em 2012 para construir a minha vida carioca, a minha história “estrangeira”, a minha nordestinidade preservada com samba no pé. Mas o mestrado me ensinou a beleza e o valor da travessia. E é nela que desde aquele dezembro emprego, outra vez, toda a minha energia. 



terça-feira, 22 de outubro de 2013

O último portfólio



Conheci dia desses uma frase ótima: isso que chamam de mestrado é, na verdade, uma máquina de fazer doido. Desconheço o autor, mas como ele tem razão! Minha loucura, que já saía de todos os buracos da minha cabeça, agora pressiona o corpo inteiro. Tudo dói. As costas, as imediações do pescoço, os olhos fundos e pesados. O pulso fisgando a cada clique no botão direito do mouse. Agora sim fiquei sem muito tempo para abstrações. Para frequentar as praças e os bares da cidade. Sequer para ir às manifestações de rua. Justo na hora que ficou bom...

Os dias chegam, vão, e milagrosamente ainda lembro-me de pagar as contas e de manter abastecida a geladeira. Viver agora é cumprir um cronograma pregado na parede em frente ao computador, cercado de palavras-chaves escritas em papel neon. Não há dia que não voe. E só Nina Simone me entende, enquanto faço download de matéria de jornal, cantando baixinho, noite adentro, no limite de dormir sentada e saltar para a cama. Até vir o sol e começar tudo outra vez.

Resolvi entrar na academia porque já não dormia direito, mesmo esgotada mentalmente. Agora, depois de uma aula de jump e uma ducha morna, difícil é levantar, tão perfeito e profundo é o sono! Há também alguma vaidade nisso, agora absolutamente assumida. Depois dos 30 comecei a pensar que já tendo me disposto a mudar de cidade, a fazer mestrado e a viver longe de casa, por que não ficar mais bonita também? Fato é que a combinação ‘mente sã, corpo são’ agora é uma tradução literal nas imediações do catete, sem técnicas mágicas. Dura é a vida, menina, já dizia minha avó. Estudar, fazer dieta, malhar e dormir bem. Tá, e tomar um chopinho um domingo ou outro, porque se não teria nascido outra pessoa no lugar da Clarisse. E aí seria caso de internação. 

Mesmo não precisando mais, em termos quantitativos, resolvi cursar a disciplina Análise de Discursos, com a professora Inesita. Já disse à ela que agora carrego uma mágoa de caboclo, porque se tal curso tivesse sido ofertado antes, minha cabeça estaria teoricamente muito mais organizada e potente em tudo, inclusive na qualificação. Mas o que não tem remédio, remediado já nasceu. E eu só quero saber o que pode dar certo, seguindo à risca a receita de Torquato. Tem sido muito bonito e muito revelador o aprendizado.

Estive no Intercom, em Manaus, apresentando um trabalho no GP que não tinha ‘Saúde’ no título, mas que foi totalmente dominado pelos representantes da Fiocruz. O professor que apreciou meu trabalho, assim o definiu: está muito bacaninha, e tem o formato bem adequado à proposta do PPGICS. Adequar-se, às vezes, é muito gratificante.

Como se não quisesse focar no dia da defesa da dissertação, empurro para frente o pensamento e esbarro em outro sofrimento: despedir do Rio justo agora que criei minhas preferências? Que aprendi a viver essa cidade tresloucada, sem pecado e sem juízo? Agora que já não me faltam companhias para carnavalizar? Agora que até um relacionamento fixo, porém aberto, apontou no meu caminho, para invernos rígidos ou não? Minha família evita, eu sei, mas sinto que a cada dia que passa, a pergunta me espreita com mais proximidade: chegou a hora de voltar?

O Rio me deu várias coisas e me tirou outras tantas. Não me sinto capaz agora de mensurar, e talvez nem seja mesmo a hora, mas pensar que este é o meu último portfólio com fala, com blog, que aqui começo a me despedir, pelo menos oficialmente, de vários colegas com os quais não consegui tecer maiores intimidades, já me aperta o coração e a garganta. E me aperta mais ainda os outros tantos que me deram muitos risos e acolheram alguns prantos. Nesta vida feita de pessoas, e dos sentidos que as povoam, eu careço de coração mais substancioso, para aguentar seguir sempre em frente, confiando no que vai ficar.

A todos vocês quero fazer a minha homenagem singela. Pois comigo, Cazuza esteve errado. O Cristo abriu os braços e me protegeu. E seja qual for o meu destino, haverá paradeiro para o nosso desejo, dentro ou fora de nós.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O dia D

Nasci competente para rituais. E por isso cuidei de imaginar a mesa posta, cuja oferta lembrasse o que me apetece. Ou de onde vim. Saí catando no Rio castanhas de caju, rapaduras, bolachas secas, quebra-queixo, café. Depois disso arrumei a sala, pensando com cuidado na disposição das cadeiras, e arranjando modo de respirar fundo, focando sempre na real importância da situação. Nem mais, nem menos. ‘É um momento positivo’, todos me diziam. ‘Aproveite bem a oportunidade’, bradavam outros. E a barriga cada vez mais embrulhada, que somada à fraqueza das pernas e aos lapsos da memória, me jogaram cedo numa ansiedade difusa. As células todas histéricas.

Sou competente para rituais, mas nem tanto.

A qualificação foi muitíssimo dolorida. Eu estava lá, com o meu projeto, o que eu levei dias e noites escrevendo, apagando, remendando... mas até ele parecia arisco. Tinha criado forma própria e não me ouvia mais. Ainda quis aparar, no ato do escrutínio, suas arestas. Causar-lhe obediência. Mas eu estava nervosa demais para ter um corte certeiro, direto, objetivo. Então naquele ‘dia D’ o projeto disse de mim muito mais do que eu disse dele. Estávamos sim misturados um no outro, banhados das mesmas angústias, mas agora eu era a escultora, tentando compreender se o que eu havia feito até ali ainda era matéria fluida. Lutando contra o tempo pela parcela que ainda não havia enrijecido pelo tempo de execução e por todas as referências ali embutidas.

Ouvi todas as críticas – anotando e gravando – e depois de assistir o vídeo inteiro duas vezes, concluí que o meu pacote foi completo, para todos os gostos. Quase um combinado de 48 peças! Questionaram praticamente tudo: relevância, objetivos, referencial teórico, métodos. No fim das contas, o projeto era bom, mas se eu girasse as velas do barco e mudasse a direção da busca, ficaria melhor ainda. Só isso. Não houve muito diálogo com a proposta. E aqui eu deixo para sempre registrada a minha mais profunda gratidão e admiração à postura da minha orientadora, que respondeu comigo, em ato, ao que pôde ser respondido, e não deixou que eu me sentisse sozinha um instante sequer. Indefectível.

Cheguei em casa e postei qualquer coisa tão reflexiva no facebook que, dias depois, nosso amigo Marcelo me encontrou na cantina da Fiocruz e, com toda a sua sutileza, falou assim: ‘o que foi? Não aguenta não, minha filha? Então sai da Academia!’ Daí eu pensei: aguentar eu até aguento... Mas tem que ser calada? Armaria, naaaaaammmm...

Confesso que demorei muito tempo para assimilar e categorizar o que me disseram: isso aqui foi sobre o projeto, isso aqui foi sobre eles, isso aqui foi sobre os autores, isso aqui foi sobre os métodos e isso aqui foi sobre a obra. Mas hoje as coisas estão ajustadas. Estou desconstruindo parte do que esculpi, mas uma parte boa vai sim permanecer. E muita água ainda vai passar por baixo dessa ponte, que teimará em permanecer de pé!

Volto agora de 20 dias em casa. Fui reabastecer as energias e esclarecer algumas coisas práticas sobre minha pesquisa. Provavelmente necessitarei estar lá no Ceará mais tempo que o previsto, mas isso ainda se ajusta. Antes de ir, no entanto, tive a imensa oportunidade de assistir a uma aula com Ariano Suassuna, gratuita, no Teatro Municipal. Dentre todas as coisas que ele falou em mais de duas horas de conversa (adendo: ele tem 86 anos!), uma foi especialmente para mim. Disse o escritor: eu não acredito em gente que não sonha, que não tem sonhos, que não faz dos sonhos o seu norte, a sua esperança, a sua bandeira de luta.

Então, Marcelo, eu queria te dizer que eu aguento sim. E que eu vou seguir sonhando. Sem dúvidas sobre a direção das velas. Não mais.



segunda-feira, 29 de julho de 2013

Cidade maravilhosa

Quinze para as três da tarde de um domingo pós-feriado prolongado. Tomamos um táxi na rua de casa porque o ônibus não passou, e já estávamos bastante atrasadas, mesmo para os padrões cariocas, quando atrasar é normal. No caminho foi que soubemos pelo rádio do carro que logo mais a noite haveria jogo no maracanã: flamengo e botafogo. Um breve silêncio interrompido pela constatação da amiga que me acompanhava: então é isso mesmo... vamos subir o morro pela primeira vez num dia de jogo do flamengo. Sorrimos de imaginar as situações possíveis. Um medinho bem burguês... Mas quem não tem os seus?

Duas e meia da manhã do dia 16 de março, em 2002. O carro dos bombeiros vai subindo o morro devagar, escoltado pelo carro da polícia militar. Numa das curvas o encontro: traficantes armados, ao observarem aquela subida não avisada, levantam seus fuzis e se direcionam para um confronto, quando Tião desce do banco do passageiro do 190, com as mãos pra cima, gritando: calma, calma, foi a minha filha que nasceu! Enquanto isso, Eliete, que não conseguiu descer o morro antes da bolsa romper, já tinha dado a luz à Ellen, na sala da primeira casa que lhes abriu a porta, quando a hora chegou. E o pai teve que buscar lá embaixo os bombeiros, que não subiam sozinhos de jeito nenhum.

Quando saltamos do taxi, a realidade ali exposta já era bem outra. Tião nos esperava com um sorriso aberto na entrada da comunidade de Santa Marta, a primeira favela pacificada do Rio de Janeiro, e o que víamos naquele domingo ensolarado era um mar de casas coloridas, quase brotando do chão e ficando pequeninas, miudinhas, quanto mais alto ia se tornando o morro que ainda víamos de baixo. Uma visão realmente alegre, convidativa, e rápido me senti dentro de um comercial da coral, tipo ‘tudo de cor para você’. E minha primeira observação sobre o nosso anfitrião, além do seu admirável bom humor (aquele tipo de gente que ri com o estômago), foi o fato de ele ter cumprimentado dezenas de pessoas ao longo do passeio, e delas terem retribuído com a mesma simpatia com a qual eram abordadas. Ele estava realmente em casa, e nós começávamos a participar da ambiência dele, naturalmente.

É que o pré-requisito para a recepção já havia sido traçado desde 2009, 2010... quando comecei a conviver com Renato, um dos irmãos de Tião, que há mais de 20 anos mora no Ceará, com quem tive o grande prazer de trabalhar junto e de cobrar dele o meu cafezinho diário, normalmente por volta das duas da tarde, que vinha sempre acompanhado de uma história divertida, dos ‘tempos do Rio de janeiro’. Eu nem imaginava que moraria aqui um dia, mas foi o Carioca quem primeiro me deu um Rio de presente, através das suas narrativas. Foi dele que aprendi as primeiras noções de comunidade, e na cidade das histórias dele, tudo era também muito colorido. Então naquele domingo eu era apenas a amiga do Nato, portanto ‘gente da família’ e tudo certo, tudo bem.

Foi assim que entramos no bondinho (que mais parece um trem, já que funciona em trilho) e enquanto subíamos comecei as minhas perguntas habituais: se o morro estava mesmo tranquilo, se havia mudado muito ao longo do tempo, se Tião ainda tocava na bateria da São Clemente, se os filhos gostavam de viver lá... uma matraca, sem conseguir ficar calada. E Tião, com um prazer de brilhar o olho, me dizia que ‘sim, hoje está tudo muito diferente, muito melhor’, ‘presta atenção, eu sou é do sereno’, ‘meu filho mais velho dança tudo o que você imaginar’, ‘o do meio é o único estudioso e também dá aula de percussão’, e a mais nova já sabe que ‘negócio de namorado dormir em casa, só se for do lado dele’.

Quanto mais alto subíamos e mais bonita ficava a vista, mais Tião buscava no seu baú de memórias o morro do seu passado, da sua infância. Nos dizia que tudo o que agora víamos de cimento, era barraco de madeira. Que para construir era preciso subir com o material a pé, e que todo mundo ajudava no caminho. Mostrava nas paredes agora grafitadas com arte as marcas de bala, dos tantos fuzilamentos já realizados nos muros. Contou-nos da atuação da Associação dos Moradores, da ONG Atitude Social, e de uma forma de viver no morro que mudou muito ao longo do tempo. ‘A vida melhorou bastante, mas hoje está tudo maior, as pessoas se conhecem menos, os mais novos não respeitam os mais velhos e os mais velhos também não interferem mais tanto nas famílias. No meu tempo, quando um moleque se chegava perto duma mesa de bar, o avô dava logo um cascudo, e mandava sair de lá’. E eu, cá com meus botões, somava ao dele o meu lamento e pensava baixo: antes fosse só no morro, Tião... antes fosse.

Fomos até um dos mirantes da comunidade (sim, tem vários) e registramos, maravilhados, aquela Baía de Guanabara, observando que agora pequenos e frágeis nos pareciam os seus barcos, e não nós. Gostaria de soprar, e ver se os removia de lugar... Neste percurso estávamos acompanhados também de uma amiga dos tempos de escola de Tião, que há muito mora no Rio Grande do Sul e que naquele dia apresentava à filha o seu local de nascimento. E pude sentir a felicidade dela, de perceber tudo tão mais urbanizado, de comprovar um direito concreto de ir e vir, acompanhada de uma certa angústia por não conseguir identificar a casa de amigos antigos, nos becos agora tão estreitos.

Durante a descida, eu já havia parado de perguntar. Fui arrastada por uma sensação estranha e curiosa de prazer e de dor. Cada batente que eu transpunha, revelando uma possibilidade nova de entrada e saída de alguma rua (se é que se pode chamar aquilo de rua), me transportava para um outro lugar, fora e também dentro de mim: para uma venda com uma senhora muito, muito velha, na janela; para uma igreja evangélica; para um salão de beleza; para uma casa cheia de passistas produzidas com suas roupas de ginástica. Para um esgoto correndo ladeira abaixo, para muito lixo espalhado, ou exatamente para o contrário: um beco limpinho, enfeitado ainda com bandeirinhas de São João. A praça onde Michael Jackson desceu e que agora tem sua estátua, a aula de percussão lotada de turistas estrangeiros, e finalmente a casa de Tião, e de Eliete, com aquele sorrisão aberto.

Eu nunca, nunca mais, vou dizer que minha casa é pequena. Saber aproveitar espaços, na favela, não é luxo. É necessidade mesmo. A casa de Tião é uma das tantas outras que foi crescendo pro alto, laje após laje. Assim, a área do churrasquinho fica sobre os quartos, que fica sobre a sala e a cozinha, e ligando tudo isso, algumas escadas, para as quais é preciso desenvolver a ciência da verticalidade. Tanto que fiquei na dúvida se aceitava a cerveja, imaginando minha incompetência para descer aquilo ao final. Na dúvida, assistimos ao jogo do Fogão na sala, melhor para todos nós.

É claro que fiquei apaixonada. Não só pelo churrasco da Eliete e pelas histórias do nosso anfitrião, mas porque ali, no meio daquele aperto, estava materializada uma lógica que faz muito sentido para mim: de uma simplicidade que se completa no outro. Nada num nível intelectualizado. É na prática mesmo: é impossível fazer qualquer coisa no morro sem esbarrar na convivência com o próximo, e por isso ela tem que funcionar. Quando o vizinho de Tião quis subir a laje dele e perguntou se a família se incomodaria de perder a vista para o Cristo, ele assim respondeu: ‘se é para melhorar a vida da sua família, faça sua laje, porque o Cristo eu posso ver de todo lugar’. E no fim, está todo mundo no mesmo barco mesmo. Ou em canoinhas interligadas... se afundar uma, afundam todas.

Claro que um domingo é pouco para dizer que conheço o morro. Acho que não conseguiria afirmar isso nem que vivesse por lá alguns anos. Quem sabe uma vida toda, como Tião, que agora com seus 54 está curtindo a melhor fase do Santa Marta, mesmo consciente do quanto ainda pode e deve melhorar. Mas posso dizer seguramente que poucas experiências me impactaram tão positivamente quanto esta. Talvez porque eu tenha entendido que a minha vida está muito longe de ser o único modelo possível, mesmo na minha nada ousada ideia de progresso. Ou talvez porque eu estivesse com saudade de quem me abrisse as portas de casa e dissesse: entre e fique a vontade! O que é raro por aqui. Ou talvez apenas porque aquela família seja merecedora de todo o meu apreço e minha admiração: viver com uma dignidade que se conquista na raça, que não é dada de mão beijada, que não se pode sequer tentar comprar em bons colégios, é uma coisa que sempre vai me emocionar.

Fui tocada em definitivo por um modo de ser e viver que me pareceu muito mais real, visceral, integral, e por isso mesmo mais dotado de tato e paladar. Porque no Rio é preciso ter cuidado para não deixar que a visão, e todas as fotografias possíveis, sejam tudo o que existe. Porque é uma cidade linda mesmo, sem dúvida que abale. Mas faltava uma coisa que ligasse, na minha cabeça, tanto contraste. Que me dissesse que tantas cidades são, sim, uma cidade só, mesmo com formas tão distintas de existir. De pescar o peixe e fabricar o pão. Nada contra o asfalto, não me entendam mal... Mas foi o morro, e a vida que de lá pulsa, que me deu uma vontade sincera de dizer que o Rio de Janeiro começa a se parecer com o que eu entendo por uma cidade maravilhosa.


Seu Renato, Tião e Eliete, muito obrigada.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Mais afeto, por favor


Não está faltando amor no mundo. E eu estou desolada com essa descoberta. Porque a dor me pareceu sempre o caminho mais natural das coisas... O desafeto, o desamor, o desencontro. A gente nasce, cresce, apanha, aprende (ou não), envelhece e morre. E no meio de tudo isso, a gente dói. Tudo bem, tudo bem... a gente se diverte também... mas o drama tem muito mais glamour. Desde Shakespeare é assim.

Então eu achava sempre que o amor tinha a ver com isso tudo. Eterno culpado. Se alguém era feliz, era porque conhecia o amor. E se era triste, era porque isso lhe faltava. Ou, como nada é tão óbvio assim, alguém também podia ser infeliz por amar demais. Ou de menos. Geralmente demais, porque amar é ser generoso em matéria bruta. E eu acho mesmo que o mundo seria muito, muito melhor, se houvesse ‘mais amor, por favor’.

Acontece que há. Se a gente olhar bem, com tempo e com audácia, a gente consegue enxergar amor em todos os lugares. Em todos os formatos. Na neta que acompanha a avó com sua bengala pela rua. No cheiro de pão que sobe o asfalto todos os dias em que saio cedo de casa. No gesto de quem te dá passagem pela calçada estreita. Na honestidade de quem avisa que ‘moça, sua bolsa está aberta’. No papo bom com o recém-estranho ao lado. E ok, nos casais também! Os que mandam beijos pelas janelas dos ônibus sempre me deixam emocionada... Isso tudo pode ser apenas civilidade, educação, compromisso. Mas também pode ser apenas e tão somente amor.

E antes que se conclua que eu surtei, eu reconheço que há desamor também. Claro. Em excesso. Mas não é disso que quero falar agora. O ponto é outro, e é outra a conta que não fecha.

O que eu tenho visto é que o amor mudou. E foi a gente que fez isso com ele. É a gente, aliás, que faz isso com ele todos os dias, quando nega nossa capacidade de se dar a toa, na bobeira dos dias comuns. De aceitar os pedidos de desculpa, e de se desculpar também. De se permitir ser dois, ou três, ou dez, sem que pra isso precise, necessariamente, deixar de ser um.

A gente muda o amor porque não sabe mais o que fazer quando ele chega feita onda, transformando sem dó o que já estava absolutamente conformado. Abrindo todas as nossas janelas e nos destituindo dos poderes que custamos a acumular com os anos. São todos tão dignos, não? Poder de saber quando está sendo enganado, de reconhecer quando alguém está dizendo a verdade, de julgar quando qualquer coisa sai do padrão das nossas crenças e manias... Eu, por exemplo, tenho o superfantástico poder de antecipar o fim das coisas. Tenho tanta certeza que ele virá, que eu prefiro me desesperar logo, e resolver de vez o ‘problema’. Logo eu, que amo tanto, mato o amor de sufoco.

Desenvolvemos, com o passar do tempo e a força das tecnologias, preciosas habilidades. Todas temperadas pela cultura do medo, da violência e do consumo. Por conta delas, a gente empacota o amor e põe na estante, ou manda por sedex. Edita o amor e publica na internet. A gente higieniza o amor, querendo sempre só o seu lado bom. O lado que cheira a flor...

Então esses dias eu comecei uma nova campanha. Nela, ao invés de pedir mais amor, vamos sair por aí pedindo mais afeto, substantivo comum de afetar-se, de dispor a alma, de nutrir. Deixar-se tocar sem cura, e refletir sem filtro. Afeto descontrolado, que ruborize nossa face e que arrepie nossos poros. Sem explicação que convenha. Sem motivação necessária. Afeto-ato. Orgânico. Voltando ao estado mais natural possível das coisas e dos gestos.

Num nível mais interpessoal, que seja uma campanha por qualquer coisa que não traga junto uma decisão elaborada, pré-construída, seja ela qual for: de casar, de ficar junto, de ficar só... Campanha para que o afeto seja o insight de uma nova direção. Nem que seja por um dia. Nem que seja por hoje.

Não está faltando amor no mundo. A gente só precisa resgatá-lo.